segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Pé-no-chão

Pegaram no meu pé. Pegaram meu pé e colaram no chão. Disseram que fui eu quem passei a cola, mas não lembro. Não lembro, não consigo, não sei. Foi tão rápido, tão de repente, que, quando percebi, não conseguia mais me mover. Não saio mais desse quadrado, desse piso de mármore, gelado. Mas nem tenho mais vontade, porque, quando eu tento, dói. Dói feito um pedaço de mim querendo sair. Como se meu próprio corpo não me quisesse mais. Será que algum dia volto a andar? Mas nem quero mais, quero não. E, quer saber?, nem é tão ruim assim; Não pode ser... Os donos dos quadrados vizinhos também têm seus pés no chão. Ninguém anda mais! Um dia eu me acostumo, que nem eles. Que nem eles, um dia minha boca enche de dentes e meu coração se acalma.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

44

Hoje eu sou 44. Ontem também fui. E amanhã sei bem que não serei nem 8, nem 80. Nunca consegui. Não sou dessas pessoas que entram sem pedir licença, mas também não deixo de entrar. Acordo esperando pelo provável, especial se tiver que ser. Hoje, em tudo, sou 44. Nada me sobra, nada me falta. De dentro pra fora, de cima pra baixo. Não nasci pra ser analisada. Em mim não há brilhos, nem cicatrizes. Meus ombros carregam um peso cômodo, dividido igualmente entre anjos e diabos. Esses se revezam, não se encontram. Não existe descontrole. Assisto à destruição dos meus valores enquanto me deixo substituí-los por novos, encaixando-os nos antigos planos, ou planejando outros, sempre em equilíbrio. Sempre. Nem 8, nem 80. É só 44.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Parágrafo único e apressado

Eu sou apaixonada por gente. Gente que gosta de viver, e gosta tanto que se mata todo dia só pelo prazer de ressuscitar... Gente que não tem hora pra voltar, mas tem pressa. Eu gosto de espontaneidade arisca, dos que riem sem motivo, acordam chorando no meio da noite, e abraçam, abraçam, abraçam até que se sintam membro do outro corpo. E digo ainda que o mistério também sempre me atraiu, pois gosto de gente de todo tipo. E ainda que não seja gente, não consigo odiar. Sou fã da vida. Fã das diferenças, e, principalmente, da coragem. Coragem, ainda, pra admitir que tem medo. E apesar de meu jeito torto, quieto, e até paradoxal, eu sempre guardei amor de sobra, meu depósito é enorme, só nunca tive destreza o suficiente pra mostrar ou, quem dirá, administrar. Talvez um dia eu esvazie meu peito... Meu coração é uma criança encantada pelas cores do parque! Hoje anseio por seguir em busca das histórias, todas elas, destes que já sentiram o cheiro da chuva. Quero todas as descrições! E às vezes me entristece não poder agarrar tudo de uma vez e, principalmente, ter de escolher por onde começar. O ato da escolha é a pior das torturas, mas saber escolher é a maior das sabedorias. Quem sabe um dia... Quem sabe um dia me torno o que penso que sou. Quem sabe um dia distribuo amor.

domingo, 5 de agosto de 2012

cancion

Não existe amor
É tudo invenção
De quem vê graça em viver

Não existe dor
É tudo fruto da imaginação
De quem acha que viver é brincadeira
Ai, que besteira

E eu só acredito em mim e você
É tudo nós dois
É só nós dois
Inventando