sábado, 27 de outubro de 2012

(...)
Procurei tanto que, entre tantos achados, me perdi.
Achei uma folha de papel em branco, das boas, e não sei por onde começar.
Não é medo, não tenho medo de borrar.
Isso não é mais coisa minha, você sabe.
É toda uma vontade de andar por todos os lados que me faz ficar parada...

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

(En)canto

E como, desde sempre, íamos nós sozinhos, eu e mais dois ou três, um aqui, outro ali, eu podia apenas suas vozes escutar, suas palavras absorver, seus provérbios completar. Com timbres que mais lembravam canções de ninar, conversávamos embriagados pela calmaria, não a calmaria do conformismo, mas a do entendimento, da mútua adaptação, do simultâneo controle, como tudo que segue equilibrado.
Mas eis que, de súbito, um grito, um susto! Sobressaia-se ali para mim, pela primeira vez, uma voz. Era uma nova voz! Essa que, me chacoalhando, dizia "Eu sei que tu me escutas, eu sei que tu me escutas!".
Feito grito de sereia má, a voz ensurdecia-me, brincava com meus sentidos, e tão intensamente que só a ela eu podia plenamente escutar. Mas seu timbre era forte, desprendeu-me da zona de conforto, até que eu pude reconhecer os prazeres do desequilíbrio.
Uma pena é que esta voz ainda hoje diz não me entender muito bem, mas sabemos que ainda há de fazê-lo, pois, com ela, estou aprendendo a gritar.
Não apenas com ela, tantos sustos ando levando!
E tão pouco caminhamos, passamos ainda bem longe do final (um passarinho me contou!)...

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Drummond

"... Enquanto fugimos para outros mundos,
que esse está velho, velha princesa,
palácio em ruínas, ervas crescendo,
lagarta mole que escreve a história,
escreve sem pressa a história:
o chão está verde de lagartas mortas...
Adeus, princesa, até outra vida."

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Veja só, até parece que é o fim

Já falei, queria mesmo era uma caixinha para me enfiar dentro e de lá nunca mais sair, trancar-me às sete chaves, lacrar-me a tampa, tampar-me os ouvidos, e nunca mais ter de aturá-los, infinitos pares de olhos... Nem sabem: me arranham, me acordam, e me cobram, me cobram tanto, o tempo todo, que me deixam em dúvida sobre minha atuação. Ai se soubessem...

Queria uma caixinha, lá morar e esperar até que tudo melhore. Até parece que este é o fim! É claro que tudo vai ficar bem, talvez já com o próximo nascer-do-sol, quem sabe só com o próximo sol. Mas, por enquanto, eu choro a eternidade. Por hoje, eu chorarei para sempre.

Que me arranhem de vez, arranquem-me as entranhas, e, dessa vez, deixem as cicatrizes profundamente visíveis, para que de dentro da caixinha escura eu possa senti-las.  Que me façam, assim, poder amanhã lembrar de hoje, que pode sossegar ao próximo pôr-do-sol, mas nunca chegará a seu fim. - Rá! Até parece!

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Arritmia

Quem foi que lhe disse, quem foi que lhe falou, que a verdade é feita de sinceridade? Quem foi que lhe disse, quem foi esse que lhe falou, que a mentira é feita de maldade? Não se faça de vítima, nem se culpe, quem faz as regras é o coração (já as fez há muito tempo, e através dele, também, as emenda), deixe-o, sozinho, que julgue. Mas, um cuidado: manter o ritmo.