segunda-feira, 22 de outubro de 2012

(En)canto

E como, desde sempre, íamos nós sozinhos, eu e mais dois ou três, um aqui, outro ali, eu podia apenas suas vozes escutar, suas palavras absorver, seus provérbios completar. Com timbres que mais lembravam canções de ninar, conversávamos embriagados pela calmaria, não a calmaria do conformismo, mas a do entendimento, da mútua adaptação, do simultâneo controle, como tudo que segue equilibrado.
Mas eis que, de súbito, um grito, um susto! Sobressaia-se ali para mim, pela primeira vez, uma voz. Era uma nova voz! Essa que, me chacoalhando, dizia "Eu sei que tu me escutas, eu sei que tu me escutas!".
Feito grito de sereia má, a voz ensurdecia-me, brincava com meus sentidos, e tão intensamente que só a ela eu podia plenamente escutar. Mas seu timbre era forte, desprendeu-me da zona de conforto, até que eu pude reconhecer os prazeres do desequilíbrio.
Uma pena é que esta voz ainda hoje diz não me entender muito bem, mas sabemos que ainda há de fazê-lo, pois, com ela, estou aprendendo a gritar.
Não apenas com ela, tantos sustos ando levando!
E tão pouco caminhamos, passamos ainda bem longe do final (um passarinho me contou!)...

2 comentários:

  1. Encantada estou com as suas rimas sem verso. O tipo de narrativa que adoro.
    Abraços.

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  2. Embalei no seu ritmo e foi delicioso, pode crer. Laís, a propósito, por acaso, quer ver onde a coisa está russa?>>> O http://jefhcardoso.blogspot.com anseia por um comentário de sua parte. Abraço!

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